Popcafé #26: Billie Eilish dá adeus à adolescência em Happier Than Ever
Com um passo além diante do primeiro álbum, Billie Eilish alcança novo patamar musical com um "coming of age" em forma de disco.
O adeus de Billie Eilish à adolescência
Desde que a figura de Billie Eilish se tornou a dissonância cognitiva geracional favorita de muita gente, a personalidade da cantora sempre me chamou mais atenção que sua música.
Fiquei fascinado pelas inúmeras entrevistas disponíveis no YouTube, revelando uma adolescente que mesmo tão jovem já era muito consciente do seu potencial criativo e cheia de idiossincrasias. Eilish sempre se mostra alguém com um espírito progressivo, enquanto feminista e vegana, mas ao mesmo tempo apaixonada por sua família e questionadora de comportamentos abusivos de seus pares de faixa etária.
Graças às insistências involuntárias da vida, aos poucos fui dando mais atenção a hits irremediavelmente potentes como “Bad Guy” e “When The Party’s Over”. E essas camadas da personalidade estão todas lá: seu lado soturno misturado a um cinismo debochado arrancaram elogios de gente como Dave Grohl (Foo Fighters) ou Tom Yorke (Radiohead).
Dito (tudo) isso, é preciso enfatizar que seu documentário lançado no começo do ano, The World's a Little Blurry, marca uma ruptura definitiva da adolescência, que só agora de fato se conclui com o ótimo álbum Happier Than Ever.
Trata-se de um ritual de passagem público, tratando não mais seus esqueletos no armário ou monstros debaixo da cama (a depressão), mas os desafetos amorosos. Eilish escreve muito mais diretamente sobre eles para deixar muito claro que está ótima sem nenhum deles (“Eu não mudei meu número de telefone / Apenas troquei quem eu respondo”). E claro que, por conta do documentário, o ex mais recente levou o pé na bunda musical mais bem dado dia últimos tempos.
Os ex-namorados, entretanto, não são os únicos "alvos" do disco, no entanto. A masculinidade tóxica, entretanto, segue em comum: seja o machismo que enfrenta pelo seu modo de se vestir ou de se expressar, ou o universo da fama, ambos levam belas pancadas musicais em faixas como a de abertura, “Getting Older” (minha favorita do disco), ou a de encerramento, “Male Fantasy”.
As coisas que antes me empolgavam
Agora me dão um emprego
As coisas pelas quais anseio
Um dia, me deixarão entediada
É tão estranho que nós
Nos importamos tanto, até que não mais
(Letra de “Getting Older”)
Ainda ao lado do seu irmão e produtor, Finneas, Eilish desponta dessa vez com uma robustez musical muito mais sólida e solta. Menos presos aos temas melancólicos, brincam com bossa nova, com o jazz de crooner, ou até com uma pitada de soul. Se ainda pode soar como um passo tímido abrir mais a voz em canções como a faixa tema do disco, esse parece ser um caminho definitivamente promissor. Com seu coming of age em forma de álbum, Billie Eilish segue ocupando, com muita tranquilidade, a sala de seletos artistas que se propõem (e conseguem) redefinir a música pop.
Top 5 aleatório da semana
1. Dianho é meu novo personagem favorito da Internet. Figura icônica do interior do Rio Grande do Sul, bombou criando o meme “todo nicolas-cagezinho” e chegou a 1 milhão de seguidores na rede, com direito a admiração de Whindersson Nunes.
2. E quem resolveu fazer um cover de “my future” de Billie Eilish foi Miley Cirus, dando um toque meio soul-rock à música - que nem precisa ser excelente, mas só de ver uma canção dela com voz mais “aberta” é um experimento interessante.
3. Pra quem curtiu tanto o skate nas Olimpíadas, os próximos dias são uma ótima oportunidade de acompanhar um dos maiores campeonatos mundiais de street. Isso para não falar das Paralimpíadas, claro.
4. Dingo Bells, uma das minhas bandas brasileiras preferidas, fez uma paródia da sua ótima “Eu Vim Passear” para incentivar a vacinação.
5. E quem tirou um pezinho do pop-gospel e mergulhou profundo no pop-romântico foi Priscilla Alcântara. Super bem produzido por Lucas Silveira (Fresno), o EP Tem Dias no mínimo chama muita atenção (no melhor sentido).