Popcafé #14 - Duplas de rock futurista em alto e bom som
Sem perder a intensidade do contrabaixo distorcido que o consagrou, o duo inglês Royal Blood lançou no finzinho de abril seu novo álbum, Typhoon. Assim como no lançamento anterior (2014), o blues-rock é apenas a base. Se antes rimava com o som do Black Keys ou White Stripes, agora conversa com a sonoridade dos DJs franceses do Justice. Essa mistura, claro, acaba remetendo ao clima do Muse, mas sem o excesso de firulas eletrônicas dos conterrâneos. É um disco bem produzido e tem os timbres de baixo bem únicos de Mike Kerr, com a levada de Ben Thatcher na bateria, e mais inserções de sintetizadores e backing vocals. Vale ver os clipes no canal da banda e ouvir duas das canções que coloquei na playlist da Popcafé lá no Spotify. Por aqui, eu deixo esse pocket show que tem do novo álbum as duas primeiras do setlist.
Outro duo que está há mais tempo na mesma pegada retro-futurista do rock, bebendo de fontes do stoner e do eletrônico, o Death From Above 1979 lançou seu novo álbum, Is 4 Lovers, no finalzinho de março. É um discão, potente e para ouvir alto, mas daqueles que nem precisa ser remixado para fazer as pessoas dançarem num festival. Está lá uma carga política nas letras, falando de elites nova-iorquinas e da vida em pandemia. A ótima “NYC Power Elite Part I” solta versos sarcásticos como “NYC Power elite / Breakaway uncivilised / NYC power elite / I’m morally uncompromised” - território que denuncia o flerte com o punk rock da dupla canadense formada por Jesse F. Keeler no baixo/sintetizador e Sebastien Grainger nos vocais e na bateria. “Totally Wiped Out” é curta e grossa e soa bem demais no álbum, “Free Animal” é uma das mais marcantes” e o single “One + One” é a mais pop e que já está rodando nas playlists há um tempo. Corre para ouvir.
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Ouça a playlist Popcafé - Tocando em Maio 2021 no Spotify.
Muito tem se falado nos últimos tempos sobre representatividade de pessoas negras na produção cinematográfica de Hollywood. Desde protestos no Oscar (que, por sinal, funcionaram) ou atores da Marvel questionando fatos incontestáveis, bastante desse assunto passa pelo simples fato de que muita gente nem “chega lá” - ou seja, quer fazer cinema mas o preconceito ou as limitações sociais esgotam até chegar o cansaço. Monstro, filme de 2018 que entrou no catálogo da Netflix esse mês, é sobre isso em suas entrelinhas: na história de um adolescente que exercita sua curiosidade sonhando em ser cineasta e se envolve com criminosos da vizinhança, o filme disserta sobre o problema da justiça americana em olhar para o homem negro como culpado por suspeita. Apesar de começar um pouco didático demais, acerta bastante o tom da sua pretensão à filme de tribunal e alcança um patamar irreversível em relevância e qualidade, mas, sobretudo, em pertinência.
Expandindo seus tentáculos criativos e garantindo um livro de cada gênero literário popular no Brasil, o paraibano Tiago Germano chega à sua terceira publicação e segundo financiamento coletivo bem sucedido em poucos dias de lançado: Catálogo das Pequenas Espécies é a sua primeira seleção de contos e sai em parceria com a editora Caos e Letras. Seu romance A Mulher Faminta (2018) é excelente e Demônios Domésticos (2017) foi finalista do prêmio Jabuti. A campanha do novo livro foi destaque no Catarse e já completou até sua meta estendida, mas ainda dá pra participar até domingo (16). A escrita mais curta de Tiago passeia bastante pelo mundo do humor autoficcional e regional do interior da Paraíba, sempre deixando uma acidez no ponto certo sobre as camadas políticas e sociais da vida híbrida das cidades interioranas.
Aproveitei e pedi a Tiago uma indicação de livro e ele como bom membro do grupo de apoiadores de financiamentos coletivos (do qual faço parte orgulhosamente), recomendou justamente a obra de outro paraibano:
“O bom cronista é aquele que recupera a infância do mundo e faz o leitor, com suas retinas fatigadas, lembrar-se do primeiro olhar que lançou sobre as coisas. Em Quando a Saudade me Visita (Ideia, 2020), Phelipe Caldas mostra toda sua maturidade de cronista num livro que parece nos impor a mesma pergunta que Fernando Sabino se fazia, já depois de adulto: o que você quer ser quando crescer? Phelipão, uma criança que por um acidente do tempo cresceu demais, dá a sua resposta nas páginas e, em várias crônicas desta coletânea, se permite o delicioso exercício de voltar a ser menino”.
A obra também foi um sucesso no Catarse e você pode comprar o livro diretamente com Phelipe no Instagram.
Top 5 aleatório da semana
1. Agora é oficial: depois de uma eternidade de rumores, o HBO Max vai estrear no próximo dia 27 um especial de reencontro de Friends. Mas nada de ficção e o novo streaming deve chegar no Brasil mês que vem.
2. Um perfil no Tiktok que posta apenas computadores velhos rodando perfeitamente jogos antigos.
3. Teke Teke é a melhor banda de psico-rock-japonesa-canadense que você vai ouvir hoje.
4. Vale ver o famoso vídeo do assalto a um carro blindado na África do Sul que deu errado porque o motorista poderia ser personagem de um filme de Michael Mann. Depois veja outro ângulo.
5. E o trailer do novo filme de Paul Verhoeven promete deixar o Vaticano irritado (nsfw).
Por hoje é isso. Se você já pode se vacinar, corre lá, cara. Se não pode, incentiva quem já pode. Um abração.
Ricardo Oliveira